Mariana - Ana Rapha Nunes

Título: Mariana
Autora: Ana Rapha Nunes
Editora: Editora InVerso
Ano: 2016

Sinopse: Mariana é uma menina que vive em uma pequena cidade de Minas Gerais. Passa os seus dias rodeada pela natureza, subindo em árvores, pegando fruta no pé, observando o pôr-do-sol, aproveitando as alegrias da infância. Vai crescendo e sonhando com o mar…
No entanto, nem tudo são flores no caminho da menina, que terá de largar sua terra natal e ir com os pais para a cidade de Mariana. Lá surgirão novos amigos, florescerão descobertas e o seu primeiro amor. Mas um mar de lama atravessará o seu destino.
A coragem e a determinação serão fundamentais para Mariana que se vê obrigada a crescer de uma hora para outra. Em poucos minutos, a sua vida e a de tanta gente irão virar de cabeça para baixo. O que fará Mariana diante desse novo universo?

"Bebeto sabia a dor que era não ter pai. Aos nove anos de idade, perdera o seu, num acidente terrível. Nunca mais vira aqueles belos olhos chegarem em casa, com o pacote de pão nas mãos, no final de tarde. A voz dele até hoje ecoa pela casa. Foi muito difícil, é muito difícil.

Quando chegam as datas especiais, é ainda pior. Todos os dias dos pais, aniversário ou Natal, ele sente o trator da saudades abrir o seu peito. Uma dor que nunca cala."

Mariana é uma menina cheia de vida. Alegre, curiosa e estudiosa, gosta de explorar tudo ao seu redor e adora aprender. Seu pequeno mundo se vê ameaçado quando seu pai toma uma grande decisão e Mariana entende, com muito custo, que amadurecer significa abandonar coisas.

Prestes a mudar para sempre a sua história, Mariana muda-se para Mariana, cidade sede da grande tragédia em 2015, e recomeça sua nova história com grandes descobertas. Na nova vida, Mariana tem que lidar com todas as coisas que vão chegando, o primeiro dia de aula, os amigos, professores, casa e vizinhos, os primeiros problemas, os antigos e os novos amores. A pequena sonhadora começa a se adaptar a tudo isso e seus antigos sonhos dão sinais de se tornar realidade como conhecer o mar, por exemplo, mas o mar que Mariana não esperava enfrentar era a lama. Um mar forte, devastador e certeiro de lama que invadiu sua vida.

"Naquele dia Mariana conheceu a força de um mar. Não aquele mar límpido, de águas cristalinas e ondas, mas um mar de lama, a levar tudo o que estivesse em seu caminho. Vidas, amores, memórias, tudo era destruído."

Lindo, singelo e emocionante!

Já conhecia a escrita de Ana Rapha em "A Lua que eu te dei" que deixou saudades com seus pequeninos Bebel e Luan, mas foi em Mariana que tive mais certeza ainda do talento da escritora.

Acredito que o que faz de um livro bom não são a quantidade de páginas, o gênero escolhido ou se há ou não história de amor, mais ação do que diálogo, entre outras coisas que já vi sendo usadas para caracterizar uma boa obra. O que faz de um livro bom, na minha humilde opinião, é o nosso termômetro interno. Mexeu com você? Tocou seu coração? Então pronto! Não importa o quanto a crítica diga que é ruim.

Eu sempre disse aqui no blog que Infantojuvenil não está na minha lista de favoritos, mas Ana Rapha está. Ela tem uma escrita leve, um jeito carismático de cativar o leitor e fazer com que, mesmo que ela escreva quatrocentas páginas, sintamos que passou rápido.

Narrado em terceira pessoa com enfoque na vida de Mariana, o livro tem muito mais nas entrelinhas. Conta mais que a história de uma única pré-adolescente, mostra a história de todas as Marianas, Joãos, Anas, Paulos e seus familiares sobrevivente e perdidos de uma tragédia de comoção internacional. Ana contou todo o processo de forma singela sob a visão de Mariana, pois acredito (um achismo rs) que a ideia da autora não era só mostrar a tragédia em si, a dor, a perda, a marca que ficará eternamente na memória de quem vivenciou, mas também a esperança, a humanidade, a fé na vida e no recomeço. Muitas pessoas perderam tudo nesta tragédia, casa, pertences, fotos, lembranças, entes queridos, mas ainda sim com toda a dor não perderam a vida e a fé. Uma grande lição para todos nós.

"Na desgraça, não há vez para a beleza nem para a altivez. Todos são iguais. Não há nome, sobrenome ou endereço que mude aquela situação. São todos humanos, apenas humanos."

Deixo aqui os meus parabéns a autora e esta resenha como indicação deste super livro curtinho e rápido de ler, mas que deixa uma lição extensa, pra vida toda.