Quinta Autoral Fabulônica: Dia das Crianças - Ana Rapha Nunes

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Olá Pessoal!

Neste dia especial, colorido e cheio de alegrias, vamos compartilhar este texto cheio de reflexão sobre o verdadeiro sentido da infância na #QuintaAutoralFabulônica.


Infância Perdida




Dia 12 de outubro. Mais um dia para a doce Lia comemorar. Ela tem nove anos e adora quando esse dia chega. A menina, dos olhos azuis da cor do mar, dos cabelos lisos e compridos ensolarados, dos dentes pequenos e do sorriso tímido, ama essa data.
É o melhor dia do ano depois do seu aniversário e do Natal. Ela ganha vários presentes e, mais do que isso, ela ganha atenção. Um dia todinho para ela. Os pais ficam inventando mil brincadeiras, os padrinhos aparecem para levá-la a um passeio divertido, os avós vêm para o lanche farto, os tios mandam carta de longe. Que dia mais feliz!
Neste ano não será diferente. Após um café na cama com direito a cosquinhas, um almoço delicioso na companhia dos avós, Lia saiu para passear com os padrinhos. Renata e Arthur não são tão presentes quanto gostariam, vivem viajando pelo mundo afora. Muito trabalho, pouco tempo. Mas o dia das crianças é sagrado. Pegam Lia e a levam para um belo passeio.
E depois de muita andança, a menina volta cansada. O sorriso no rosto denuncia a felicidade. Quase adormecendo, vai olhando o sol se pôr pelo vidro do carro. De repente, uma voz se aproxima
─ Tio, dá um trocado? – pede o menino maltrapilho diante do vidro de Arthur, que lhe dá meia dúzia de moedas capazes de brotar a alegria no rosto pálido daquele garoto.
Luiz é o seu nome. Um menino que vive pelas ruas a pedir esmolas para poder ter o que comer antes de dormir. Seu pai está preso, sua mãe doente. Tem três irmãozinhos mais novos. Assim, o menino de nove anos percorre as ruas de Curitiba em busca de uns trocados para não padecer de fome.
O menino Luiz não sabe o que é ser criança. Não tem direito a brincar, a estudar, a sonhar. Luta todos os dias para sobreviver. E ele não é o único. Quantos meninos assim não há pelas cidades? Fome, frio, solidão.  Crianças marcadas pela dor, sem direito à infância.

Inês segue cortando cana-de-açúcar, para ajudar no mísero sustento de casa. Já Ian fica horas no sinaleiro, debaixo do sol forte, implorando que comprem chicletes e pirulitos, para poder ter um pouco de leite para beber. Marcelina vive à espera de um pai ou uma mãe que possa lhe tirar daquele abrigo fétido, em que a solidão lhe abraça diariamente. Inácio anda quilômetros para ir à escola aprender o bê-a-bá, sonhando com dias melhores. E Álvaro está no hospital, apenas esperando um transplante de medula, sua única esperança para ter um futuro.

Luiz, Inês, Ian, Marcelina, Inácio, Álvaro. Tão pequenos, com tantas dores. Essa é a infância de muitos, uma infância perdida. Nem todos são como Lia que precisam se preocupar apenas em aproveitar a alegria dos dias ensolarados, podendo ser criança de verdade, com direito a sonhos e brincadeiras… Para alguns, ser criança é apenas utopia!

A Autora

Ana Rapha Nunes
*Clique na imagem abaixo e conheça mais sobre o trabalho da Ana
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Um comentário:

  1. Texto profundo, e que infelizmente retrata a realidade de muitas crianças. A autora está de parabéns pela sensibilidade. Ótima escrita!!

    Beijos,
    www.verifiqueapagina.com.br

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